Maior atleta de sua história e, consequentemente, a maior campeã do tênis nacional entre homens e mulheres, Maria Esther Andion Bueno, conhecida no exterior como Maria Bueno, teve uma carreira espetacular, disputou finais em todos os eventos de Grand Slam, com três títulos em Wimbledon e quatro nos Estados Unidos. Além dos sete títulos, possui outros cinco vice-campeonatos. Nas duplas, Estherzinha acumula onze conquistas, sendo cinco em Wimbledon, quatro no US Open, uma em Roland Garros e mais uma na Austrália. Ela também tem um título de duplas mistas, conquistado no saibro de Roland Garros, totalizando 19 títulos de Grand Slam
Começou a jogar aos cinco anos de idade, influenciada pelo irmão Pedro. Embora se recusasse a assistir a aulas de tênis, seu talento natural para o esporte chamava a atenção. Ao mesmo tempo em que conseguia vitórias sobre garotos mais velhos, a menina de pouco mais de dez anos se sagrou bicampeã paulista de natação. Foi atendendo um conselho do pai que Estherzinha decidiu trocar definitivamente as piscinas pelas quadras. Aos 16, foi campeã do Orange Bowl, o mais importante torneio juvenil do planeta. No ano seguinte, levantou sua primeira taça como adulto, na competição de Fort Lauderdale, nos EUA.
Na época de um esporte completamente amador – os torneios se limitavam a distribuir às campeãs gratificações como relógios e cashmeres -, viajava pelo circuito com dinheiro contado, às vezes emprestado, e duas raquetes na sacola. A transição de promessa para ídolo foi inevitável. Aos 17, sem sequer jamais ter visto uma quadra de grama anteriormente, já era campeã de duplas de Wimbledon, jogando ao lado da norte-americana Althea Gibson. Na temporada seguinte, com apenas 18 anos, bateu a estrela norte-americana Darlene Hard e conseguiu a primeira de suas três taças de simples na grama britânica. Ainda em 59, ganhou pela primeira vez o Nacional Norte-americano (hoje US Open), torneio em que chegaria ao tetracampeonato de simples em 66.
Para completar sua invejável coleção, disputou as finais de Roland Garros (1964) e Austrália (1965). Entre 1957 e 1967, período em que se manteve em evidência, a brasileira conquistou 65 títulos internacionais de simples, 90 de duplas, 15 de duplas mistas e foi vice-campeã em outras 45 ocasiões. Venceu 170 títulos fora do país e disputou troféus 257 vezes. De quebra, foi a primeira mulher a se tornar campeã de duplas nos quatro torneios mais importantes do mundo numa mesma temporada (o chamado Grand Slam), em 1960, feito que seria repetido apenas 24 anos mais tarde por Martina Navratilova.
Além do tênis vistoso, agressivo, Maria Esther trazia para ela os holofotes devido ao charme e à elegância que desfilava em quadra. Em 1964, por exemplo, deixou a platéia atônita ao usar um forro cor de rosa sob um vestido branco. O forro aparecia a cada saque ou jogada mais acrobática da tenista, idealização de Ted Tiling, o famoso costureiro das estrelas do tênis, que sempre elegeu Estherzinha como sua principal “modelo”. Algumas das roupas que ele fez para a brasileira estão no hall da fama do estilista.
Os problemas de Maria Esther começaram em Wimbledon, em 1967, quando começou a sentir fortes dores no braço direito. Num único dia, disputou 115 games em oito horas (simples, duplas e duplas mistas), o que agravou de vez o cotovelo. Conseguiu fazer uma temporada completa em 1968, mas a gota d´água veio no ano seguinte. Em plena final do Aberto do Canadá, desistiu de tentar o título diante de Marageth Smith. Seria seu último jogo oficial até 74, quando tentou a volta, após uma série de sete cirurgias. Conseguiu seu título derradeiro no Aberto de Tóquio, mas voltou a se retirar em 1975. Ganhou duas rodadas em Wimbledon de 1976, sob aplausos do público e crítica, já aos 37 anos. Em 1977 anunciou sua aposentadoria. Semanas depois, deu adeus a Wimbledon como uma das convidadas de honra para a festa do centenário do torneio.
Faleceu no dia 8 de junho de 2018, aos 78 anos, vítima de um câncer linfático. Maria Esther. A luta contra a doença começou um ano antes com um diagnóstico no lábio. Uma cirurgia tirou a lesão, mas o tumor se espalhou pela garganta e foram necessárias sessões de radioterapia. Depois de uma melhora, ela chegou a ter vida normal, tendo inclusive retornado a jogar tênis. Mas após novos exames foi constatado que o mal havia se espalhado para ombro e costas e vinha se tratando com imunoterapia. Ela foi internada e permanecia lúcida até o agravamento do quadro, que se tornou irreversível.